A pequena Mostar faz jus ao título, com louvor!
Após nos encantarmos com a paisagem da estrada que liga Saravejo a Mostar, sinuosa, cortando montanhas e margeando o verde-esmeralda rio Neretva, a chegada a Mostar nos pareceu um pouco decepcionante. Deparamo-nos com uma cidade parecida com muitas outras, bonitinha, mas sem nada de especial. Mas a impressão dura pouco. Ao chegarmos à parte histórica, o coração da cidade, tudo mudou de figura. É de perder o fôlego a vista daquela cidadezinha que mais parece uma pintura.
Cortada pelo rio Neretva, Mostar tem como ponto principal a stari most ou ponte velha, Patrimônio da Humanidade da Unesco. A ponte antiga, de quatro séculos de existência, ponto de união entre as duas partes em que se divide a cidade, foi bombardeada pelos croatas em 1993, durante o conflito que marcou a região, para impedir que os mulçumanos que ocupam o bairro circulassem de um lado para outro e, assim, ficassem encurralados.
Mostar é divida entre cristãos e mulçumanos, que ocupam partes bem definidas da cidade. De um lado habitam os mulçumanos bósnios; de outro, cristãos sérvios e croatas, que, no entanto, têm uma convivência pacífica, pelo menos, aparentemente.
A destruição da velha ponte, orgulho dos bósnios, foi um choque. Reconstruída em 2008, e com marcas que evidenciam a sua reconstrução, a ponte continua a ser chamada de stari most e, cá para nós, é tão bela, que a diferença de tonalidade entre as pedras novas e as originais que a compõem não tira seu mérito. Para marcar o fato histórico, uma pequena pedra colocada entre dois morteiros traz gravada a inscrição “Don’t forget 93”.
Caminhar pelas ruelas à beira do Neretva, nos arredores da stari most, admirando sua beleza, é o que se pode chamar de um dos maiores prazeres da vida. As margens, dos dois lados do rio, são marcadas pela influência turca, tanto na arquitetura como no grande bazar a céu aberto que ocupa suas ruelas. Ali se encontram desde tapetes turcos a artigos de cobre, além, é claro, de todas as bugigangas para turistas comuns nos mercados da Turquia.
Na parte velha não circulam carros, o que torna o passeio ainda mais prazeroso. Restaurantes e cafés estão por os lados e demonstram o peso que o turismo representa hoje para a economia local: na cidade que teve nos curtumes a sua maior indústria, o Tabhana, local onde os curtidores processavam peles, foi transformado em um agradável conjunto de cafés. Nós almoçamos no restaurante Sadrvan. Muito bom!
Fora do “centrinho”, vale visitar a casa turca, hoje museu, Muslibegovic ou a Casa Biscevic e a mesquita Karadjoz-Bey. E também, para não apagar da memória o bombardeamento da cidade, observar construções que trazem ainda as marcas da destruição.
A velha ponte, no entanto, é mesmo o ponto alto do passeio. Mais que um cartão postal é o símbolo de Mostar e da reconstrução Bósnia.